A ELEIÇÃO DE FLAVIO PODE PÔR FIM A UM CICLO DE DOMÍNIO DO CLÃ SARNEY NO MARANHÃO

Ricardo Costa Gonçalves[1]

O esgotamento do clã Sarney já vem se desenhando desde 2006, quando foram derrotados por Jackson Lago (PDT), que obteve 51,82% dos votos válidos, enquanto Roseana Sarney obteve 48,18%. O governador Jackson Lago só conseguiu governar dois anos; pois, seu mandato foi cassado pelo Superior Tribunal Eleitoras (TSE). Essa cassação foi orquestrada pelo clã Sarney. Essa perseguição ao governador Jackson Lago, também, contribuiu para que se acelerasse esse processo de esgotamento. Ao reassumir o “comando” do Estado, Roseana Sarney prometeu fazer o melhor governo da sua vida; mas, fez uma administração desastrosa. No pleito de 2010, Roseana Sarney venceu com apertada vantagem de 50,08% dos votos no 1° turno, contra seus principais opositores Flavio Dino (29, 49%) e Jackson Lago (19,54%). Numa eleição que foi marcada pela denúncia de fraude por parte do clã.

Após o falecimento de Jackson Lago, Flavio Dino passa a liderar e articular a oposição ao clã Sarney. E começa a colocar em prática uma engenharia política para desbancar a dinastia Sarney do comando do Estado. E, algumas estratégias foram sendo construídas. Primeiro, inventa a candidatura de Edvaldo Holanda Junior (PTC) para prefeito de São Luís, em contraposição à reeleição do prefeito João Castelo (PSDB). Edvaldo Holanda Junior se elege prefeito de São Luís no segundo turno com 56,06% dos votos válidos, portanto, comandando o maior colégio eleitoral do Estado. Segundo, unifica as principais lideranças e partidos de oposição (PSB, PDT, PROS, PPS) e percorre o Estado realizando a caravana “Diálogos pelo Maranhão”. Nesses eventos, Flavio Dino denuncia as mazelas do Estado e colhe subsídios para o seu programa de governo, e divulga sua candidatura. Terceiro, com a decisão do Partido dos Trabalhadores em apoiar o candidato do Clã Sarney, Flavio Dino atrai o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) para compor a sua chapa como vice. Muitos imaginavam isso impossível, pois Flavio Dino tinha derrotado o PSDB na eleição municipal de São Luís.

Além das estratégias que foram construídas por Flávio Dino, outros fatores contribuíram para a derrota do grupo Sarney. A decisão de Roseana Sarney em se aposentar, e, portanto, não participar das eleições, deixou o grupo órfão e desorientado. A substituição da candidatura de Luís Fernando pela de Lobão Filho, já próximo das convenções, também contribuiu para o enfraquecimento do grupo. Pois, tiveram que rearticular todos os prefeitos para apoiar Lobão Filho. Os atrasos na liberação de convênios com as prefeituras fizeram com que a maioria dos prefeitos não se empenhasse e caíssem em campo na busca do voto para o candidato Lobão Filho.

Todo esse conjunto de fatores contribuiu para a vitória expressiva de Flavio Dino (PC do B) nestas eleições para governador em 2014. A vitória de Flávio Dino com 63,52% dos votos válidos sobre o candidato da família Sarney, Lobão Filho que obteve 33,69%, põe fim a um ciclo de dominação de 49 anos de governo desse grupo no Estado do Maranhão.

Para pôr fim, de fato, ao ciclo de domínio do grupo Sarney, Flavio Dino não pode cometer os mesmo erros de Jackson Lago. Que governou com um núcleo duro de corruptos e se isolou da população, fazendo um governo sem participação popular.

Para pôr fim a este ciclo, o governo de Flávio Dino tem que inverter a lógica de desenvolvimento centrada no modelo minero-metalúrgico, dos grandes projetos adotados nos últimos anos, e que estão voltados essencialmente para o processamento intermediário de minério e para produção de matérias-primas, cujo destino principal, são os mercados da União Europeia e da Ásia. Para outro modelo de desenvolvimento que atraia indústrias de beneficiamento de matérias-primas, que estimule a economia solidária, o cooperativismo, que fortaleça a agricultura familiar para produzir alimentos, que estimule o processo de agroindustrialização, que estimule a constituição de um mercado interno. Implantar o desenvolvimento Regional e territorial como base de planejamento das políticas públicas de desenvolvimento e social. É necessário se reestruturar a assistência técnica, realizando concurso para a Agência Estadual de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural do Maranhão (AGERP), equipar os escritórios regionais. Realizar um governo com participação popular, ampliando e fortalecendo os instrumentos de participação.
 

[1] É professor, mestrando em Estado e Políticas Públicas pela Fundação Perseu Abramo (FPA).
Ricardo Costa Gonçalves (99) 8121-9250 / 9904-8087
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